10 fevereiro, 2009

[do tempo]

Há dias FDP ! E hoje é certamente um desses dias FDP. Um desses dias que o nosso arrependimento se relaciona ao momento, certamente nojento, em que decidimos escapar, com mais ou menos vontade, do ventre da nossa mãe.
É, eu tenho a paranóia dos dias, das horas, dos minutos, dos milésimos...
A paranóia do tempo.
Sim, é certamente a minha maior paranóia.
E eu que tenho muitas.

Como seria o mundo sem tempo. Se cada coisa que nasce não estivesse condenada a morrer? E se a transformação constante em tudo o que conhecemos não existisse. E se em vez disso tudo fosse extático. Se tudo existisse igualmente para sempre? E se houvesse coisas que se alteram e outras não?

Mas feliz, ou infelizmente tudo muda a cada momento. E nós somos obrigados o mudar com tudo.
(Neste momento passaram 2 minutos desde que eu comecei a escrever. Estou 2 minutos diferente.)

E em dias como hoje estes 2 minutos são tão importantes. Eu, em muito menos de 2 minutos, transformei o que vinha a ser um dia de M**** num dia FDP.
Foram precisos apenas alguns segundos no meio de algumas letras. E um dia que já nada prenunciava nada de muito bom ficou ainda pior.

As coisas mudam.
Tudo muda.
E nada para de mudar. E tão grave como esta constatação é a constatação que a cada tempo que passa a tempo é menos
.
É o que acho que me obceca no tempo é o não-tempo. O tempo inexistente. O tempo que eu não tenho. O tempo que eu nunca terei e o tempo que por mim passou. E deste último o tempo que eu não dei conta de passar.

Tenho algumas rugas. Cabelos brancos ainda não, mas sei que não tardaram a cobrir-me a cabeça. É o tempo deixa marcas de mudança. E como essas marcas nos encaminham para o fim do tempo, tendemos a não gostar delas.

Quando era criança gostava do tempo. Do tempo que me parecia ser quase infinitos. E nessa altura desejava veemente ter cabelos brancos. Eram tão lindos. Todas as pessoas de quem eu mais gostava tinham cabelos brancos. E eu sonhava com orgulho que eu dia eu também ira ganhar isso. Eu iria ser como eles.
Hoje, e em dias como hoje, já não me apetece que esse tempo chegue.

As dores têm aumentado com este tempo com a neve e o mau tempo.
Sinto a necessidade de fuga. Tempo não dar pelo passar do tempo. Das horas marteladas em cada osso, mecanicamente como ponteiros de relógio.

Não sei quanto tempo tenho. Sei certamente que tenho menos tempo do que o que quereria.
Sei que não me espera muito tempo bom. Mas seio tão bem que aceito isso, como aceito que tudo muda e o tempo passa.

E tudo passa. E a dor do que passa é o que me pesa. Essa leveza com que vemos o tempo passar. A simplicidade como o aceitamos. E a dor que essa aceitação nos causa.
Herdei esta obsessão do tempo com o meu pai.
Aprendi cedo de mais o que era o tempo e o não-tempo.
Como se soubesse que era bom que os conhecesses bem, que tivesse a percepção deles para que no pouco tempo que tivesse não deixa-se que o tempo me ganhasse.
Para que soubesse que cada parte do tempo era para ser vivido intensamente e da melhor forma.

Mas em dias como hoje, o tempo leva a melhor.
Martela-me cada osso intensamente para que não só o sinta com a alma mas com o corpo.
E vivo a meio-tempo.
Se ao menos pudesse guardar o outro meio!

(Passaram exactamente 10mm e 17 segundos.)

L.C.
2009/02/10

2 comentários:

O Profeta disse...

Construí um abrigo no deserto da emoção
Os vales são as ruas de um Deus
Fecha-se a alegria da terra
Um último olhar de amor, solto dos olhos teus

Na noite tudo se perde
Mora a sombra o desvario
A indomável vontade do amor
Tem a força de um Rio

Boa semana


Mágico beijo

Filha de SafO disse...

Infelizmente como não há tecla "Pause", o Tempo segue impiedoso...
Beijoca