antes de dormir...

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Hoje lembrei-me daquele dia. Uns amigos apresentaram-me um homem. Homem este que falou connosco como se nos conhecesse a todos desde o início do mundo. Calmo possuía toda a tranquilidade do universo nos seus olhos azuis quase transparentes. E depois de nos deixar a todos encantados partiu novamente junta à orla da praia como se ninguém o pudesse ver entre a areia e o mar.

Naquele dia decidi-me. Dali em diante fui-me construindo uma solitária por convicção. Adquiri a paz, a serenidade, o silêncio, o entendimento e cresci… Cresci tanto! Passei também eu a andar junto da orla de tantas coisas, passando despercebida e levando a minha paz junto de tantos rostos, de tantos lares… E parti. Escrevi num poema “eu parto, eu sempre parto” e escrevi que “volto um dia”… no meio de tantas palavras mais ocas de sentido.

Mas tem chegado cada dia mais perto de mim o meu regresso.

Tem me assustado levemente esse desejo de ficar. Não é medo é apenas o mudar de um rumo que já não reconheço e não sei onde vai dar…

E sim, já devia estar a dormir há algum tempo. Mas custa-me adormecer sem um cheiro, um sorriso, uma presença, um calor ou a voz mais bela que já ouvi! Tenho almofadas a mais na cama…

Entretanto ligou-me uma amiga dessas que nos sentem além de tudo. Não lhe disse nada não são precisas palavras. E rimos dos dias em que eu caia pelas escadas rolantes a baixo na estação de Bruxelas entre histerismos e riso e do dia em que apresentamos trabalhos sérios sobre ilusões ópticas às nove da manhã completamente encharcadas em Pisang Ambom (uma garrafa) e eu via ilusões que nunca antes tinha visto…

Fez-me bem. Faz-me sempre bem a melhor amizade do mundo.

Mas após o desligar do telefone regressou o desejo desse tempo onde ainda não tinha a obsessão do silêncio. E onde sem medo de perder o equilíbrio batalhava nua por tudo.

Será medo isto que tenho? Não, eu não tenho medo...