O Relevo de Burney ou The Burney Relief, ca. 1950 A.E.C.
Repisei no barro derretido. Era uma outra terra. Outro lugar. O outro era o reflexo côncavo do mesmo. E tudo existia a duplicar. Era como se sendo não se fosse. E ninguém interrogava. Eram pedras e mais pedras, algumas árvores. Pedaços de eu quebrados e outros em quebrantos. Ouvia-se um som aqui, outro acolá. Aparentava por vezes ver-se alguém fazendo o som de recolher os cacos. E tudo era verde, vermelho e preto. Havia réstias de azul, amarelo e lilás. E amarelo do barro, muito amarelo-barro. Na realidade, havia também barro cinzento, de um cinzento cinza-barro. Os burros dormiam com as vacas. E havia uns quantos hominídeos que dormiam com os burros e as vacas. Eu, ou o reflexo do eu em mim, já começava a perder o hábito de interrogar. As coisas apareciam-me claras ante os olhos. E eu de não-cega tentava não ver. Não que não visse mas não custava nada não ver que este vitelo dormia todos os dias no meu esterco. Como não custava esquecer que havia uma qualquer vitela comendo do meu fardo. Tudo isto porque quer eu visse quer não visse os dias seguiam lentos, os fenos cresciam e tornavam-se fardos, no lento dos dias. E mesmo tu comias um fardo aqui um acolá. Aliás como eu, como todos. Porque comer é algo instintivo. E o reflexo do reflexo de tudo isto era apenas uma cópia do reflexo, porque mesmo o reflexo de nós era o reflexo do reflexo. E porque tudo estava interligado e seguia a cadência ininterrupta do tempo circular. Ora vinhas circular circulando ora desaparecias na curva ao fundo da minha óptica reflexa das lentes, dos olhos e do meu ecrã do teu ecrã. E tudo segue o seu percurso no barro da vida, cinza e amarelo-barro. De uma outra terra e outro lugar. Lugar esse reflexo do concavo reflexo da vida dos homens que são apenas reflexo de sombra que é o reflexo projectado de si e do seu.
3 comentários:
gostei do texto, difuso mas conciso, intruso mas preciso. limita-se o barro a burros e a vacas... :) continua! até
que fédon e república e banquete que nada. eu quero é esse curral. quiça um 'u' trocado por 'a', um 'a' trocado por 'i'. sabores exóticos :)
adorei esse texto. pela História, mnemotecnia, os bichos e cheiros e sensações...
Olha, o País Azul, mudou para rosa... e agora, será que vamos deixar de ver as estrelas que guiam os viajantes? :-)
Haverá algumas influência de Platão e da sua alegoria da caverna? Gostei!
Um abraço
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