09 fevereiro, 2010

Correspondências perdidas I

Demorei anos até que, num dia de neve, finalmente consegui chorar-te.


Demorei tempo a entender o que vinha a ser isso de não existires.

Demorei tempo até entender que nunca mais me ias pegar ao colo, que nunca mais irias sorrir para mim.

Demorei tempo a perceber porque tinhas ido.

Demorei tempo até entender que não foste porque quiseste nem porque não quiseste, mas porque era assim.

Nunca perdi, contudo o hábito de perguntar "Porquê" a tudo, mesmo que para os meus muitos “Porquês” não exista nenhuma resposta.

Sabes, nos dias como hoje sinto a tua falta.

És um espaço que nunca está preenchido em mim.

Ninguém encaixa nesse lugar, por mais que eu ou outros tentem faze-lo.

Odeio qualquer tipo de ocasião onde estão todos e onde tu faltas.

Odeio a ideia de "nunca mais"!

Odeio o "impossível".

Mas já sei como viver com isso.

Imagino que estejas bem. Que estejas num sitio bonito, onde faças todo aquilo que gostavas sem que nada te limite.

Até imagino que te estejas a rir de mim por estar a escrever isto.

Mas sabes, eu tenho de escrever é a forma de me expressão mais terapêutica.



Com saudades impossíveis,



Alma

7 comentários:

alguresnumaserra disse...

Boa tarde!
Apesar de já ter partilhado este excerto num blog penso que é de todo adequado a esta fantástica libertação das palvras e das emoções.

"Familiariza-te com a ideia de que a morte não nos diz respeito, pois todo o Bem e todo o Mal residem na sensação; ora a morte é a privação completa desta última. Este conhecimento exacto de que a morte não nos diz respeito tem como consequência apreciarmos melhor as alegrias que nos oferece a vida efémera (que não tem uma duração ilimitada), suprimindo o nosso desejo de imortalidade. Com efeito, deixa de sentir terror quem verdadeiramente compreende que a morte nada tem de atemorizador. (Epicuro, “Carta a Menaceu”

alguresnumaserra disse...

penso que...as saudades são sempre possíveis e ainda bem que o são...temos a impossibilidade da partilha in loco, mas na mente e no corpo temos a possibilidade de sentir...bem ou talvez não...cada um sabe como e quando sente.

rv disse...

eu acho q o q custa mais é qd a viagem é repentina e n houve tempo para o :" até sempre, ou até logo"; tv por isso me despeça, diariamente, dos amigos com um: " até logo".
Os espaços vazios em nós, cabe nos preencher connosco próprios e nunca com os outros pq caso contrário estaremos sp a compensarmo-nos, a disfarçar o q está lá mas q não tem côr.
O caminho que se faz dura consoante o ritmo e a vontade de cada um, não é fácil mas é sp aquilo a q eu chamo de um " chegar a casa".

Me, Myself and I disse...

Nossas vidas são marcadas pelas pessoas que partilham conososco momentos de alegria ou tristeza. É de todas essas experiências que nos construimos, consolidamos e descobrimos cada dia um pouco mais.
Como dizes as coisas acontecem simplesmente porque tinha de ser assim.
E ninguém se pode rir do que o outro sente apenas entendê-lo e ajuda-lo da melhor forma que puder e souber.
Alma isto é apenas mais uma fase, uma passagem para um mundo ainda mais azul :)
Beijoc@s.

nina rizzi disse...

poxa, pequena, que saudade eu tinha desses teus textos, tanta que 'inda 'gorinha publiquei um texto seu lá no ellenismos... bem a esse gênero.

é, é a saudade.

um beijo, tá. dos azuis. (im)possivelmente azuis, como naqueles picassos que gostamos :)

Filha de SafO disse...

Somos nos que mantemos a chama dos que partiram, acessa, com nosso amor.
Beijo M_L

alguresnumaserra disse...

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
(Clarice Lispector)