06 outubro, 2008

Lenços e echarpes e cachecóis, chapéus e lutas pequenas e grandes lutas.

Porque aqui já começa a estar frio… e finalmente posso começar a usar alguns dos meus acessórios predilectos: lenços, echarpes, cachecóis, chapéus e gorros.

Bem, posso usar com conta e medida, pois, aqui tudo o que foge as regras pode ser usado mas com muita contenção. Sim, aqui no topo da montanha ainda não é bem vista uma mulher de chapéu, nem sequer de boné desportivo se for maior de 10 ou 11 anos quanto mais… Bem vista se calhar não é a melhor expressão, talvez seja melhor a vista de mais…

Os lenços, esse, até se usam bastante, principalmente quando as mulheres vão à igreja para participar na missa católica e onde não se deve (ainda) ter a cabeça descoberta. Isto, claro, as mulheres porque aí sim os homens põem a descoberto os poucos pelos das suas cabeças retirando os chapéus e as boinas.

E como não poderia deixar de ser, aqui, quando ficam viúvas ou de luto estes, os lenços, nunca mais são retirados das cabeças femininas, escondendo os longos cabelos e as faces trigueiras. Acho que elas não sabem muito bem porque pelo que me tenho percebido, mas é assim, sempre o foi e ficava-lhes mal não o fazerem, ficariam mal vistas…

Quanto as echarpeste estas são usadas em grandes ocasiões e dias festivos pelas mulheres mais novas (entenda-se bem mais velhas que eu!). E eu se no trabalho usasse uma, isto seria facilmente considerada uma afronta…

Os cachecóis, esses, conseguem mais popularidade principalmente entre os mais novos. Sim, ainda é raro ver a combinação cãs e cachecóis. Mas, como o frio acaba por apertar comigo e eu até estou mais acostumada aos climas temperados do sul, acabo por não os dispensar quase diariamente. Vou alternando com um ou outro lenço mais discreto normalmente preto cinzento e azul-escuro.

E lá vou eu tentando aos poucos mudando a mentalidade “pedresca” desta minha gente granítica. Esta gente que eu amo, mas que não fala a minha língua, nesta também minha terra onde serei sempre uma estrangeira e onde apesar de Salazar nunca por aqui ter passado tenho de pensar muito bem antes de dizer o que quer que seja, antes de falar com quem quer que for. E onde, possivelmente, não haverá muito mais de 15 pessoas, além dos políticos (sim, esses há-os em toda a parte), em mais de 800 km2, a saber que no dia 10 de Outubro, o parlamento vai discutir o projecto de lei do Bloco permitir o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.

Pois, nem todos temos as mesmas lutas, felizmente… Há quem me critique porque eu não estar mais activamente nessa luta, mas eu já tenho tantas e SOMOS TANTOS que pode ficar distribuído.

Eu vou continuar a lutar para poder usar os meus lenços e os meus chapéus e para um dia não ter de usar um lenço preto sobre a cabeça e poder andar igualmente nas mesmas ruas sem que falem de mim, vou lutar para que os “excedentes” alimentares produzidos cheguem a pelo menos mais um lar, para que famílias recebam pelo menos mais um euro por mês, para que tenham mais uma consulta no médico, tenham mais uma caixa de medicamentos, mais uma conversa, mais um sorriso, mais uma visita dos filhos, mais umas telhas, mais um teto e uma porta e uma janela, um lápis, uns sapatos e uma bola, e um livro e um jogo, um colo, um carinho… e para que tenham menos, muito menos de muitas outras coisas.

Eu prefiro as coisas simples… até as lutas, eu prefiro as lutas simples. As grandes lutas têm sempre muitos aficionados e não precisa assim tanto de mim…

Mas de qualquer forma desculpem se vos decepcioneis. E sim, por baixo do “meu lenço” eu gostava de me poder casar legalmente, mas gostava muito mais que o facto de me casar não fosse capa de revista, noticia de abertura de jornal, ou motivo de conversa além do meu circulo, gostava que ninguém me visse de forma diferente e é por isso que prefiro continuar a pagar uns imposto a mais do que o justo.

6 comentários:

Filha de SafO disse...

Tens razão, as lutas mais simples e por vezes desconhecidas, são tão merecedoras de atenção. E os que lutam por elas não podem ser acusados(@s) de procurar protagonismo.
Lutar para os mais necessitado, define te :)
Beijoca míuda

nina rizzi disse...

pois! aí estão meus acessórios preferidos e prediletos: chapéus, lenços, cachecóis (esses que tão cedo não poderei usar, já que na Fortaleza Bela, nunca está menos que 24º celsius) acrescento as faixas de cabelo que tenho usado muito... aí está uma bela luta. não que estejamos dispensadas das outras (ou que eu esteja). uma só andorinha não faz verão...

escharpes lilases pra vc ;)

mfc disse...

Gosto das tuas manifestações de bom gosto... entre "Esta gente que eu amo, mas que não fala a minha língua"!

Paula Baltazar Martins disse...

Cachecóis, lenços e chapéus também são os meus acessórios favoritos... e relógios :)

Referes uma questão que eu partilho, gostava de me puder casar, mas que esse facto fosse tratado como a coisa mais banal.
Neste momento é vital a nossa "causa" ter visibilidade na sociedade, só assim se puderá dar o grande passo. Mas essa visibilidade faz-me mudar de canal várias vezes, tais são as barbaridades que se dizem pelo simples facto de duas pessoas que se amam quererem casar.

Anónimo disse...

Gostei desse post, trata de tema simples e demonstra toda sua atenção ao lugar onde mora...apesar das diferenças, vc parece se sair muito bem e ter uma vida feliz...Bom fim de semana pra tu!!!

S-Kelly disse...

Alma Azul,

Acabei de ler o teu post, porque acabei de chegar de viagem, e como digo no meu blogue, "regressei fracturada..." Evidentemente que todos sentimos na pele esta derrota, porque sentimos (eu pelo menos sinto) que ficámos aquém da plena liberdade e da plena felicidade. Mas sim, o caminho continua e há muitas mais lutas que enfrentar por esta vida fora.

Viver no interior não é nada fácil, e eu também já passei por isso (apenas 9 meses é certo),mas foi o suficiente para perceber que não iria ser feliz por ali. Vivi em constante conflito com as pessoas (que me criticavam por ir para o café jogar matraquilhos com os rapazes da aldeia - S. João de Tarouca-) e acabei por entrar em conflito com o próprio meio (quase que morri de frio). Louvo a tua persistência "pedresca" e louvo ainda mais a tua capacidade em te dares à "tua gente" e ao granito que te aconchega, e quanto ao facto de usares lenços, chapéus, boinas ou écharpes, a única coisa que te digo é que nunca deixes de usar estes adereços, sejam às bolinhas, às riscas, negros, vermelhos ou escarlates, usa-os até à exaustão e sempre à tua maneira.