A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge E tem casas baixas que ficam me espiando de noite Quando a minha angústia passa olhando o alto. A minha rua tem avenidas escuras e feias De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte. A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram Tem árvores grandes que tremem na noite silente Fugindo as grandes sombras dos pés aterrados. A minha rua é soturna… Na capela da igreja há sempre uma voz que murmura louvemos Sozinha e prostrada diante da imagem Sem medo das costas que a vaga penumbra apunhala. A minha rua tem um lampião apagado Na frente da casa onde a filha matou o pai Porque não queria ser dele. No escuro da casa só brilha uma chapa gritando quarenta.
[...]
É a impossibilidade de fuga diante da vida É o pecado e a desolação do pecado É a aceitação da tragédia e a indiferença ao degredo Como negação do aniquilamento.
É uma rua como tantas outras Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite. É a rua por onde eu passo a minha angústia Ouvindo os ruídos subterrâneos como ecos de prazeres inacabados. É a longa rua que me leva ao horror do meu quarto Pelo desejo de fugir à sua murmuração tenebrosa Que me leva à solidão gelada do meu quarto...
... também por Vinícius... e também pelas ruas onde nos perdemos...também pelo ainda longo e verde candeeiro do meu quarto...também pelas ruas de Amesterdão onde irás comigo... também por tudo...e mais... Sei que morrerei e viverei de novo... voltarei por ser a essência de mim... assim: eterno retorno. beijo_azul
4 comentários:
RUA DA AMARGURA
A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge
E tem casas baixas que ficam me espiando de noite
Quando a minha angústia passa olhando o alto.
A minha rua tem avenidas escuras e feias
De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento
E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte.
A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram
Tem árvores grandes que tremem na noite silente
Fugindo as grandes sombras dos pés aterrados.
A minha rua é soturna…
Na capela da igreja há sempre uma voz que murmura louvemos
Sozinha e prostrada diante da imagem
Sem medo das costas que a vaga penumbra apunhala.
A minha rua tem um lampião apagado
Na frente da casa onde a filha matou o pai
Porque não queria ser dele.
No escuro da casa só brilha uma chapa gritando quarenta.
[...]
É a impossibilidade de fuga diante da vida
É o pecado e a desolação do pecado
É a aceitação da tragédia e a indiferença ao degredo
Como negação do aniquilamento.
É uma rua como tantas outras
Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite.
É a rua por onde eu passo a minha angústia
Ouvindo os ruídos subterrâneos como ecos de prazeres inacabados.
É a longa rua que me leva ao horror do meu quarto
Pelo desejo de fugir à sua murmuração tenebrosa
Que me leva à solidão gelada do meu quarto...
Rua da amargura…
Rio de Janeiro, 1933
Vinícius de Moraes
ah... é que eu, assim como o Vinícius, sei o que é... além do abissal silêncio...
em tempo: sempre quis conhecer (porque não morar?) em Amsterdã). beijo azul ;)
... também por Vinícius... e também pelas ruas onde nos perdemos...também pelo ainda longo e verde candeeiro do meu quarto...também pelas ruas de Amesterdão onde irás comigo... também por tudo...e mais... Sei que morrerei e viverei de novo... voltarei por ser a essência de mim... assim: eterno retorno.
beijo_azul
Frog, não diria mais ... muito menos melhor.
Beijo_azul
Enviar um comentário