"Sabes, Eugénio, as nossas dunas, em Fão, estão perdidas?! O lixo dos Homens... Já não são mais as claras dunas da minha infância… quando sentada entre os búzios e as ondas te via caminhares pensativo a percorrer a orla do vento… Aquele teu olhar fascinava-me… e de quando em vez, enchia-me de coragem, e olhava-te directamente nos olhos tentando decifrar as palavras com que brincavas.
Sim, foi assim tentando que aprendi a brincar com elas e a partir com os barcos, os pássaros e as águas e a voltar no vento azul.
Se fosse hoje talvez não fosse assim o meu chegar… talvez partisse dentro da garrafa de cerveja que lá se encontra agora e passasse a ver o mundo através de um vidro amarelo e deformado.
Felizmente, nas dunas da minha infância, havias tu e azul e palavras leves como água, madressilva, beijo, barco e amor… para brincar."
AlmaAzul, 09 de Junho de 2005
Fazem poucos dias que te escrevi estas palavras… nunca pensei que seriam as últimas em vida. Vais fazer-me falta… muita falta nas nossas noites de insónia, entre a luz de um candeeiro verde e a lua.
Guardo-te dentro de um livro, junto à tua mãe.
“Eu tinha dois ou três anos, tenho agora sessenta, e o apelo da luz é o mesmo, como se dela tivesse nascido e só a ela não pudesse deixar de regressar.”
Eugénio de Andrade 20.11.85 em “Entre o primeiro e último crepúsculo”
“Eu tinha dois ou três anos, tenho agora sessenta, e o apelo da luz é o mesmo, como se dela tivesse nascido e só a ela não pudesse deixar de regressar.”
Eugénio de Andrade 20.11.85 em “Entre o primeiro e último crepúsculo”
5 comentários:
Eu lamento não ter privado com este ser maior das nossas letras e da nossa cultura, apenas tive a oportunidade de contactar com uma pessoa que era seu grande amigo, o professor Arnaldo Saraiva. E ainda hoje, passados vinte e alguns anos, me soam no ouvido as palavras tão próximas sobre o Eugénio. Mas a sua poesia, desde há muito que a bebo com um sabor muito epecial. Ele estará sempre connosco.
Ele ficou muito contente ao ler-te.
Percebeu que o percebias e a falta que ele te faz.
Uma linda linda homenagem.
As palavras
" São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"
Eugénio de Andrade
frog, obrigada pela junção... não somos nós tantos. *azul
manuel, sim certamente que está.:)
mfc, obrigada.
rute, obrigada por O trazeres também aqui.
***azuis a todos
Frente a frente
Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.
Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!
Eugénio de Andrade
Enviar um comentário