13 junho, 2005

Eugénio de Andrade, bom regresso...



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"Sabes, Eugénio, as nossas dunas, em Fão, estão perdidas?! O lixo dos Homens... Já não são mais as claras dunas da minha infância… quando sentada entre os búzios e as ondas te via caminhares pensativo a percorrer a orla do vento… Aquele teu olhar fascinava-me… e de quando em vez, enchia-me de coragem, e olhava-te directamente nos olhos tentando decifrar as palavras com que brincavas.
Sim, foi assim tentando que aprendi a brincar com elas e a partir com os barcos, os pássaros e as águas e a voltar no vento azul.
Se fosse hoje talvez não fosse assim o meu chegar… talvez partisse dentro da garrafa de cerveja que lá se encontra agora e passasse a ver o mundo através de um vidro amarelo e deformado.
Felizmente, nas dunas da minha infância, havias tu e azul e palavras leves como água, madressilva, beijo, barco e amor… para brincar."
AlmaAzul, 09 de Junho de 2005

Fazem poucos dias que te escrevi estas palavras… nunca pensei que seriam as últimas em vida. Vais fazer-me falta… muita falta nas nossas noites de insónia, entre a luz de um candeeiro verde e a lua.
Guardo-te dentro de um livro, junto à tua mãe.

“Eu tinha dois ou três anos, tenho agora sessenta, e o apelo da luz é o mesmo, como se dela tivesse nascido e só a ela não pudesse deixar de regressar.”
Eugénio de Andrade 20.11.85 em “Entre o primeiro e último crepúsculo”

5 comentários:

Manuel disse...

Eu lamento não ter privado com este ser maior das nossas letras e da nossa cultura, apenas tive a oportunidade de contactar com uma pessoa que era seu grande amigo, o professor Arnaldo Saraiva. E ainda hoje, passados vinte e alguns anos, me soam no ouvido as palavras tão próximas sobre o Eugénio. Mas a sua poesia, desde há muito que a bebo com um sabor muito epecial. Ele estará sempre connosco.

mfc disse...

Ele ficou muito contente ao ler-te.
Percebeu que o percebias e a falta que ele te faz.
Uma linda linda homenagem.

Anónimo disse...

As palavras

" São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"

Eugénio de Andrade

AlmaAzul disse...

frog, obrigada pela junção... não somos nós tantos. *azul
manuel, sim certamente que está.:)
mfc, obrigada.
rute, obrigada por O trazeres também aqui.

***azuis a todos

Anónimo disse...

Frente a frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

Eugénio de Andrade