Quando vives no cimo da montanha tens muito
tempo. Tens tempo para tudo e passa-se o tempo a inventar o que fazer.
Tornamo-nos mais criativos. Mas também mais introspectivos.
O silêncio ainda é rasgado pelo latir dos cães ao
longe e pelo rugir do vento a passar na folhagem. Aqui ouvir uma música ainda
pode ser avassalador!
Com todo este sossego e isolados em nós mesmos,
falamos pouco. Incorporamos a alma das mulheres de negro que passam debaixo dos
seus lenços. Lenços que apenas demonstram os rostos sulcados pelo tempo.
Acho que com o tempo vamos adquirindo a sua
postura curvada como se carregássemos o mundo aos ombros.
Pensamos de mais. E este ar frio e puro
provoca-nos essa sensação de deliro tantas vezes idílico que nos leva daqui
para fora, para outros tempos, outras paragens. Por vezes fecho os olhos e
estou num porto em pleno século XVI… sinto as vozes, os cheiros os burburinho e
azafama… Viajo muito, também assim.
Outras vezes o mesmo ar quase nos leva a loucura
quando soprado por vento norte como hoje. Parece que se incorpora em nós uma
tendência para o declínio, que nos empurra para o precipício.
E hoje ao sentir esse vento nesta paisagem infinita
de ravinas imaginava-me eu a desprender-me dali. E foi aí que me ocorreu um
pensamento menos trágico:
Se morresse eu, ali naquele instante, o meu
íntimo pensamento, o meu último suspiro, a minha saudade seria entre tantos
suspiros pensamentos e saudades, por ti.
...
3 comentários:
Devanear por alguém é bom, mesmo que seja loucura da nortada, termos alguém em quem pensar no último momento.
Não estamos sós.
Oi Adorei o texto...ótimo texto para um fim de semana.
beijos
muito belo.
um beijo azul daqui.
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