18 julho, 2012

Escassez


O sol frita-me o cabelo
enquanto carrego alimentos
quase até a boca de quem não come.
O meu corpo semi-falecido
clama por um banho fresco de rio:
águas límpidas, gélidas…
Mas isso não alimenta ninguém:
é preciso continuar a demanda.

16 julho, 2012

Infância

Invade-me as narinas
o cheiro da afia do lápis de cor
da minha infância.
O cheiro da madeira moída
da sala salazarista
que tantas vezes me fez arder as mãos.
A terra molhada dos berlindes,
o pó do giz branco no granito do recreio e
o caderno de capas de tecido inglês A5
com as suas linhas vermelhas na margem,
tinham cheiros que guardo em caixinhas
para não os perder, nunca.

Não é saudade de meninice, não...
É apenas uma revolta incontida
no tempo de não-ser criança.


15 julho, 2012

Mujeres analógicas


Hernán Casciari - Mujeres analógicas

...

13 julho, 2012

[da economia]

Não te digo tudo
o que poderia
por uma simples razão
económica.

Estou a amealhando palavras
para que te cheguem sempre.

no IP4


Hoje há poesia em mim. Mas ao contrário de tanto outros dias não é a paixão, um amor latente, um político, ou uma notícia…que me cria poesia. Tão pouco é a crise que me incute poesia. Não, hoje o que me provoca poesia é o simples efeito do anticiclone dos Açores no panorama atmosférico do IP4, no sentido descendente.

10 julho, 2012

[da intimidade]


A Cândida não é propriamente minha amiga. É mais uma oportunista... É daquelas gaijas que aparecem logo quando sentem que estamos um pouco mais em baixo, quando estamos mais adoentados... Podiam achar que isso é mesmo de amiga. Mas não, essa é daquelas que só a presença ainda nos leva mais para baixo. A Cândida nem sequer é bonita... Eu pelo menos não vejo grande beleza no albinismo. Nós somos é íntimas, ela conhece-me bem. Bem, bem mesmo, como quase ninguém. Ela percorre-me o interior, penetra o meu corpo de uma forma que só mesmo ela. Eu gemo, mas não de prazer. Essa Cândida é a verdadeira empata-fodas. É isso! Mas não seria de esperar muito de alguém com um nome tão estúpido com Cândida Albicans!

08 julho, 2012

Alcoholic :)




Common Kings  - Alcoholic (Acoustic Version live)



07 julho, 2012

Shiu...

... É de noite
neste Portugal.

05 julho, 2012

Tem[po]






Espero-te ainda. Os minutos passam lentamente como só eles no monitor do pc. Não sei se já alguma vez te disse mas, os minutos têm uma cadência própria dentro da minha cabeça. Acho que nunca mais me consegui distanciar o suficiente deles. Chego mesmo a pensar que os incorporei para que fossem meus, sempre que não são nossos. Um determinado sentimento de posse, completamente adverso a qualquer teoria do tempo. Mas isso não me importa. Como não me importam estas linhas, ou qualquer outra coisa. Estou focada nos minutos. Os minutos, os minutos, os minutos… que são assim, um pouco mais lentos por causa dos os. Estes são os meus minutos, que chegaram a ser os nossos minutos. E já faltam menos uns minutos. Esta é a minha maior crença: faltam menos uns minutos, uns minutos, uns minutos. Leves, lentos… chegam mesmo a ser agradáveis estes minutos, quando não tendem ao desespero e ultrapassam a pura contemplação.

[de hoje]

"Nascer do dia" de Tavares
rompe o dia
cansado,
lento..

perdeu-se-lhe
a luz
no caminho.

chega
quase como
se não o fizesse.


Só os pássaros
titilam a manhã.


25 junho, 2012

O grego

...

Rapanos não quer ser ministro

Vassilá saber porque…

23 junho, 2012

Picnic à europeia



Um grego tropeçou numa pedra
Todos se riram
Eu continuei comendo Merkel



07 junho, 2012


Estou a pensar se volto ou não ao meu país azul... Agora que se fala tanto em emigrar estou a pensar em "desemigrar".

14 novembro, 2010

De volta à blogosféra.

... Finalmente estou de volta! Já começava a sentir saudades disto!
Tenho mesmo de colocar a leitura em dia!
Podem encontrar-me agora no "Bom dia, Filipina".


***Azuis

29 abril, 2010

O fim do Meu País Azul


Aqueles de vós (poucos certamente) que me têm acompanhado ao longo destes anos sabem que este blog foi criado com um intuito.

De certa forma foi criado para ser terapêutico. Com o passar dos anos passou a ser mais do que isso. De forma que o sentido dele acabou por se perder e deixou de fazer sentido.

Por tudo isso, decidi que termina aqui.

Claro que sabeis, que eu gosto realmente de blogs, vê-se pela quantidade e de anos que me tenho mantido por aqui. Por isso, estou certa que em pouco tempo reaparecerei por aí pela blogosfera com algo novo, diferente e que tenha mais sentido para mim.

Vou deixar este cantinho aqui, para construir algo mais sólido, e também menos monocromático.

Obrigada a todos, por este tempo em que carinhosamente me acompanharam.

Um abraço especial aos resistentes que me acompanham desde sempre, e sempre, mesmo nas fazes mais chatas. A vossa presença aqui foi-me deveras importante.

Sem grandes suadíssimos, fica um até a um destes dias.



Alma Azul

23 abril, 2010

Devanear


Quando vives no cimo da montanha tens muito tempo. Tens tempo para tudo e passa-se o tempo a inventar o que fazer. Tornamo-nos mais criativos. Mas também mais introspectivos.

O silêncio ainda é rasgado pelo latir dos cães ao longe e pelo rugir do vento a passar na folhagem. Aqui ouvir uma música ainda pode ser avassalador!

Com todo este sossego e isolados em nós mesmos, falamos pouco. Incorporamos a alma das mulheres de negro que passam debaixo dos seus lenços. Lenços que apenas demonstram os rostos sulcados pelo tempo.

Acho que com o tempo vamos adquirindo a sua postura curvada como se carregássemos o mundo aos ombros.

Pensamos de mais. E este ar frio e puro provoca-nos essa sensação de deliro tantas vezes idílico que nos leva daqui para fora, para outros tempos, outras paragens. Por vezes fecho os olhos e estou num porto em pleno século XVI… sinto as vozes, os cheiros os burburinho e azafama… Viajo muito, também assim.

Outras vezes o mesmo ar quase nos leva a loucura quando soprado por vento norte como hoje. Parece que se incorpora em nós uma tendência para o declínio, que nos empurra para o precipício.

E hoje ao sentir esse vento nesta paisagem infinita de ravinas imaginava-me eu a desprender-me dali. E foi aí que me ocorreu um pensamento menos trágico:

Se morresse eu, ali naquele instante, o meu íntimo pensamento, o meu último suspiro, a minha saudade seria entre tantos suspiros pensamentos e saudades, por ti.
...

20 abril, 2010

"mais do que o real"

"A propósito dos quadros, não trabalhei hoje quase nada. Trabalhaste alguma coisa? A Ângela vai-me perguntar na sua voz plana e neutra de horário de trabalho. Ando agora a pintar um que, já digo. Agora quero olhar o mar enquanto não vêm da praia. Vê-lo de dentro do parapeito da janela. A casa comprámo-la a uma viúva, amiga da Ângela, Não tinha filhos, detestava ouvir o mar pela noite, era mais viúva aqui e vendeu. De noite o mar aproveita para ser medonho. Porque o medo é mais feito do possível do que real, Um condenado à forca quando sofre mais não é quando tem a corda no pescoço. Penso eu, que ainda não fui enforcado, E o escuro tem mais carga de possíveis, aliás, deixa-me filosofar um pouco enquanto olho o mar dentro da minha segurança. Aliás, tudo é sempre mais do que o real. A esperança, o amor e assim. Que esquisito o bicho homem. O que mais lhe interessa não é ter mas o que não tem, mesmo que depois de o ter, Quando o tem, senta-se logo nele como um comboio num apeadeiro para seguir logo viagem. O real é uma vigarice como uma verdade adquirida – mas acabou a conversa, porque ouço o carro de Ângela."


Vergílio Ferreira, "Na tua Face",Circulo de Leitores, pp 31

[- Continuo sem terminar nada :( ]

[tríade]

Eu vou e fico:
Meta sou eu,
Outra é em ti e mim.

  

19 abril, 2010

Partida

Haverá forma mais pura de demonstrar verdadeiro Amor
do que deixar que o objecto do nosso amor
parta com toda a suavidade?

18 abril, 2010

o silêncio dos cardos


Regresso de novo a mim ao silêncio dos cardos.
Ele é a minha casa.
(Casa é o lugar onde sempre regressamos.)
E é nele que me aninho e me aconchego. É aqui que sou eu. E aqui que sou sonho.
Há certamente flores mais belas.
Por vezes, até mesmo eu acho, por momentos, que são mais belas do que os cardos. Até eu me apaixono!
Mas é uma beleza tão efémera. É ruidosa a paixão.
Prefiro os meus cardos e o seu silêncio aconchegante de onde cada vez menos tenho vontade de sair.
Vai, eu fico com os cardos.